Um esquema milionário contra o Banco de Brasília (BRB) foi desmontado pela Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na manhã de ontem. Os desvios somam mais de R$ 3,5 milhões e os integrantes do esquema usavam a emissão e o pagamento de boletos falsos para conseguir o objetivo. Entre os suspeitos está o candidato a deputado distrital nas eleições de 2014, pelo PPS, Luiz Carlos dos Reis, conhecido como Iti. Empresário do ramo de postos de combustíveis, ele e o irmão José Carlos dos Reis são apontados como os principais beneficiários do esquema. Os dois foram presos.
A operação batizada de Reves foi deflagrada na manhã de ontem, autorizada pela 2ª Vara Criminal do Gama, que decretou a prisão temporária de 37 envolvidos. A Justiça também determinou a busca e apreensão nas residências e empresas dos suspeitos de faturarem com os crimes praticados contra o BRB. Para chegar até eles, a polícia utilizou escutas telefônicas e fez comparação de documentos. Durante todo o dia de ontem, o delegado responsável pelo caso, Fernando Cesar Costa, chefe da DRF, fez oitivas de acusados e testemunhas.
A fraude ocorreu em um posto de conveniência bancária do BRB, dentro de uma loja de produtos automotivos chamada Gama Latas, na região administrativa do Gama. Segundo as investigações, a ação criminosa durou cerca de 12 horas, entre 8h30 e 18h30, em 19 de fevereiro. Documentos da polícia apontam a existência de uma "verdadeira organização criminosa, constituída para fraudar o BRB".
As investigações apontam que o esquema funcionou da seguinte forma: um funcionário fantasma, que utilizava o registro civil de uma vítima de roubo, autorizava as transações irregulares no correspondente bancário. Ele fez 22 depósitos para diferentes empresas e pessoas físicas, em um total de R$ 102.100. Além disso, pagou, com recursos do BRB, boletos falsos em benefício de várias empresas, entre as quais postos de combustíveis, distribuidora de alimentos, companhia de serviços aeroportuários de transporte e agências de turismo. A DRF contabilizou R$ 3,38 milhões em pagamentos. Iti e o irmão José Carlos seriam donos de firmas que emitiram e receberam os valores dos boletos.
A fraude chamou a atenção dos investigadores e de auditores do banco, porque o volume de recursos das transações era considerado incompatível com o movimento diário do posto de conveniência no Gama. O empresário Ramon Carvalho Maurício e os dois filhos também são citados no inquérito policial. Eles são os proprietários do correspondente bancário onde a fraude foi executada. Os três tiveram prisão temporária decretada. O esquema também chamou a atenção da funcionária do escritório que acompanhava a contabilidade da Gama Latas.
Na tentativa de disfarçar a transação criminosa, o grupo distribuiu os pagamentos entre várias empresas. A capilarização dos pagamentos também ajudou a burlar os limites diários das operações permitidas pelo BRB. Por exemplo, para pagamento de boletos, o teto permitido era de R$ 5 mil. À empresa de serviços aeroportuários foram pagos dez boletos no valor de R$ 4.990. Os documentos foram emitidos no dia 18 de fevereiro, com vencimento para o dia seguinte, data em que o golpe foi executado. A rapidez do vencimento também levantou suspeita.
Durante os depoimentos, muitos dos suspeitos colaboraram com a investigação, fornecendo informações esclarecedoras. Em favor desses, a DRF representou pela revogação da prisão temporária de todos os envolvidos que ajudaram na elucidação dos crimes. Nas oitivas, foi possível apontar também a participação de um outro suspeito, cuja prisão foi requerida pela Polícia Civil.
O Correio tentou contato com todos envolvidos citados nesta reportagem, por meio dos respectivos advogados. A Gama Latas e um dos postos de combustíveis citados na investigação também foram procurados. Ninguém atendeu. O BRB também foi procurado, mas preferiu não se manifestar.
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