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Diretor de Bangu 3 é enterrado; agentes contradizem Beltrame

17/10/2008 | 2162 pessoas já leram esta notícia. | 3 usuário(s) ON-line nesta página

Assassinado na manhã de quinta-feira, o tenente-coronel José Roberto Amaral Lourenço, de 41 anos, foi enterrado na manhã desta sexta. Lourenço era diretor da penitenciária de segurança máxima Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3), e foi assassinado por volta das 8h30 na Avenida Brasil. Os criminosos, que ocupavam uma Blazer e um Peugeot, dispararam mais de 60 tiros contra o carro de Lourenço, que estava sem escolta. Nada foi roubado. Lourenço foi enterrado no cemitério Jardim da Saudade, na zona oeste do Rio. 

Agentes penitenciários que foram ao enterro disseram que sua escolta havia sido retirada. Isso contradiz informação do secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro Carvalho, que disse, em entrevista no enterro, que a escolta foi retirada a pedido da vítima, que queria ter mais privacidade. Cerca de 500 pessoas acompanharam o enterro, no cemitério da Sulacap. A família do coronel não quis dar entrevista.

As declarações dos agentes contradizem também o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Na quinta, ele afirmou que foi "um opção pessoal" do diretor de Bangu 3 dispensar escolta. Segundo Beltrame, havia veículos blindados à disposição do tenente-coronel, mas ele "não fez questão" de usá-los.

Segundo o secretário, há duas linhas de investigação definidas. "O crime está relacionado com a função. Mas é importante manter as coisas em sigilo." O ministro da Justiça, Tarso Genro, classificou o assassinato como "uma ousadia dentro da barbárie". "Atacar uma autoridade e assassiná-la demonstra o grau de cinismo e violência a que chegou o crime organizado no Rio", declarou. "É crime típico de quadrilha organizada."

O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) disse que o crime foi "uma situação de covardia e de barbárie" e pediu "em vez de um minuto de silêncio, uma salva de palmas" para o tenente-coronel.

 

Presídio

A direção de Bangu 3 era dividida entre o tenente-coronel e seu irmão, o capitão Alexandre Amaral Lourenço. Lourenço cuidava do setor que abriga cerca de 450 presos, incluindo os 55 encarcerados na galeria B7, considerados o segundo escalão na hierarquia do Comando Vermelho. Entre eles está o chefe do tráfico do Morro do Turano, Ocimar Nunes Robert, o Barbosinha; Alexander Mendes da Silva, o Polegar, líder do tráfico na Mangueira; e Aldair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, apontado como líder dos detentos.

Segundo testemunhas, os bandidos emparelharam com o carro do militar, um Peugeot branco, e fizeram os primeiros disparos. Lourenço perdeu o controle do veículo e desceu por um barranco, na frente da Favela Promorar. Foi parar na Estrada de Gericinó. Após ser baleado, o diretor raspou a lateral do carro no muro da Escola Municipal Professor Ivan Rocco Marthi e parou no meio da rua. "Ouvimos tiros e depois um carro saindo em disparada", disse uma professora.

"Só temos informações preliminares. Vamos ouvir algumas testemunhas e esperar que a população use o Disque-Denúncia", afirmou o delegado da 33ª Delegacia de Polícia, Felipe Curi. Agentes da Delegacia de Homicídios já investigam o ocorrido como morte encomendada. Eles não descartam o envolvimento do CV. O secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho, esteve no local e, em nota oficial, lamentou o assassinato.

Lourenço era casado e pai de duas filhas. Atuava há quatro anos no sistema penitenciário e tinha fama de "linha-dura". Antes de Bangu 3, dirigiu a Casa de Custódia de Benfica. Em maio de 2004, sob sua gestão, a casa foi palco da pior rebelião do sistema carcerário no Rio, que resultou na morte de 30 presos. Na ocasião, Lourenço disse a deputados federais da Comissão de Direitos Humanos que estava sendo ameaçado de morte. No ano passado, denúncias e escutas autorizadas pela Justiça mostraram que os presos de Bangu 3 davam ordem aos comparsas por rádios portáteis. De dentro das celas, alguns chegavam a testar a droga que seria vendida nas favelas.

Fonte O Estado de S. Paulo