O primeiro paciente internado involuntariamente após o início do programa lançado pelo governo estadual demorou mais de 24 horas para conseguir uma vaga para o tratamento de dependência química. Apesar de o governo ressaltar que possui 691 vagas espalhadas pelo estado e outras 300 oferecidas apenas na capital, pela Prefeitura, a disponibilidade não é imediata, segundo pessoas que procuraram atendimento.
O pai da autônoma Ana Paula Mira, de 33 anos, chegou ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) por volta das 12h de segunda-feira (21), quando começou o programa, mas a vaga foi disponibilizada somente às 13h30 desta terça (22). O idoso de 62 anos foi encaminhado para o Hospital Psiquiátrico Lacan, em São Bernardo do Campo, no ABC.
Questionada sobre a demora, a Secretaria da Saúde explicou como os acolhimentos ocorrem. "As vagas são solicitadas a partir das características de cada paciente. É acessada uma central de vagas que vai procurar dentro das vagas do estado", disse a coordenadora estadual da Saúde Elisângela Elias. "Em muitos casos, a recomendação é ficar por cinco, oito dias [no Cratod]. Isso é um espaço de tratamento", justificou. Na semana passada, a secretaria divulgou a relação das 691 vagas disponíveis.
Em nota, a pasta afirma que o paciente foi atendido prontamente por equipes clínicas do Cratod, "passando por avaliação clínica com indicação para internação".
"A internação, por se tratar de involuntária, isto é, sem o consentimento do paciente, mas com o consentimento da família, só seria possível, após contato do familiar com o atendimento jurídico", informa a nota. Segundo a pasta, a filha do paciente compareceu ao Cratod nesta terça, quando deu sequência ao processo de internação involuntária. "Em menos de três horas o paciente já teve indicação de vaga no Hospital Lacan, em São Bernardo do Campo."
Localizada na Rua Prates, no Centro de São Paulox, o Cratod é a sede do programa lançado em parceria com a Justiça para "agilizar" os casos de internação involuntária ou compulsória, conforme afirmou a secretária de Justiça, Eloísa Arruda, na manhã de segunda. Internação involuntária é quando o pedido é feito por familiares. A internação compulsória é determinada pela Justiça - nenhum caso desse tipo foi registrado pelo plantão.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde afirma que não há falta de leitos para internação de dependentes químicos no estado. Além dos já citados 691 leitos especializados para tratamento de dependentes químicos, a pasta diz que estão previstos "até o final de 2014 a implantação de mais 501 novos leitos, incluindo um novo centro especializado em álcool e drogas vinculado ao Hospital das Clínicas da FMUSP, na capital paulista. O investimento total na implantação dos novos serviços é de R$ 250 milhões".
Dopado
O paciente de 62 anos precisou ser dopado pela família para ser internado à força. O idoso, que é morador de rua e usuário de crack há mais de dois anos, dizia sentir dores no corpo, ter problemas de audição, não comia bem e sumia por meses sem deixar pistas.
Preocupada com a situação alarmante do pai e com diversos furtos que ele fez em sua casa e na dos irmãos, a filha planejou uma "armadilha": convidou-o para tomar café da manhã. Aproveitando que seu pai queria muito tomar caldo de cana, Ana Paula colocou dois comprimidos de um forte calmante na bebida e o dopou. A caminho do Cratod, ele dormiu no banco de trás do carro, deixando cair um cachimbo que levava no bolso, para a surpresa da família.
"Ele está sedado, acorda para comer e volta a dormir", disse a autônoma, que trouxe nesta terça-feira roupas e um barbeador para o pai. "Ontem [segunda], o que me passaram é que o estado não tem clínica adequada para esse tipo de internação, pois precisa ser um lugar adaptado", disse Ana Paula. O idoso deixou o Cratod rumo ao hospital por volta das 16h.
O mesmo problema ocorre com o jovem Denis Navarro, de 18 anos. Ele veio sozinho procurar por ajuda e espera por um leito desde segunda, por volta das 12h. Órfão, ele mora na rua e consome crack há dois anos. Não havia previsão para a transferência do jovem até a tarde desta terça.
O Cratod afirma, por meio de nota da Secretaria da Saúde, que, ao dar entrada na unidade por vontade própria na segunda, o paciente foi atendido e medicado. "Após avaliação médica, em um primeiro momento, não foi indicado internação a ele. Neste momento, o paciente encontra-se em observação na unidade para acompanhamento da evolução de seu quadro clínico. Ele deve ser encaminhado para tratamento ambulatorial no Caps-Ad mais próximo."
O plano de combate ao crack anunciado pelo governo tem sido burocrático, segundo familiares. "Vim até aqui atrás de uma vaga para o meu filho e me mandaram procurar um Caps perto de casa. Ele é violento e precisa ser internado com urgência, mas não arranjam uma vaga logo", disse a doméstica Marta Silva, de 46 anos. Segundo a coordenadora estadual da Saúde, uma central de regulação indica as vagas do estado, a equipe é avisada e o paciente, conduzido para a internação.
Outras reclamações
Apesar de não ter tido nenhuma internação compulsória desde o início do atendimento na sede do Cratod, a Justiça acabou interferindo em dois casos nesta terça, segundo o juiz Iasin Issa Ahmed.
Na primeira situação, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com um pedido para uma equipe multidisciplinar de saúde ir buscar uma mulher grávida do oitavo filho, que está com ferimento na cabeça e vive sob um viaduto na Zona Norte.
No segundo caso, uma aposentada pediu que o filho, que está internado em uma clínica psiquiátrica na Vila Mariana, Zona Sul, permaneça interno por um tempo superior a 30 dias. A Defensoria pediu, com o auxílio da Justiça, a transferência do paciente ao Cratod para uma avaliação.
Felipe Santos de Souza, 19 anos, que vive nas ruas, procurou por 15 dias consecutivos uma vaga para internação no Cratod. Nesta segunda, ele dormiu na unidade após passar pela psiquiatria e, na manhã desta terça, foi levado de ambulância para Itanhaém, no litoral paulista, para uma clínica. Depois da viagem que durou quase três horas, o jovem foi informado que não poderia ficar na unidade. "Disseram que tinha um problema na minha documentação, que estava preenchida errada", contou.
O G1 conversou com Fábio Barbosa, diretor administrativo da clínica Ressurgir, que esclareceu o real motivo de o jovem não ter permanecido na unidade. "Mandaram ele para uma vaga que não existia. Estamos lotados", ressaltou. Souza voltou para o Cratod com a esperança de conseguir um leito para internação. "Fui preso sete vezes e não quero mais isso pra minha vida", disse.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde diz não proceder a informação de que Souza aguarda há 15 dias por uma vaga para internação. De acordo com a pasta, o paciente chegou à unidade na sexta (18) e foi encaminhado para internação na segunda.
"Por conta da falta de um documento, a internação do paciente não pôde ser efetivada de imediato. Porém, para não ficar sem assistência, a equipe médica do Cratod optou por levá-lo novamente à unidade, onde permanece internado até este momento." A nota acrescenta que o paciente vai passar por uma nova avaliação clínica ainda nesta semana.
O ajudante-geral Bruno Alves Franklin, 24 anos, viciado há dez, veio com a mãe atrás de uma vaga de internação voluntária, mas não conseguiu um encaminhamento. "Disseram que tem dez pessoas na fila esperando vaga e que era para eu procurar um Caps [Centros de Atenção Psicossocial] para fazer terapia e tomar medicamento, mas eu não vou aguentar, tenho que ficar em uma clínica", desabafou. Ele prometeu voltar ao Cratod na quarta (23) para tentar novamente um tratamento para sua dependência.
A pasta acrescenta que, no caso de Franklin, a equipe de profissionais do Cratod "constatou não haver indicação para internação em nenhum dos casos". As famílias e os pacientes foram orientados a procurar os Caps-Ad.
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