A juíza Clarice Maria de Andrade, do Pará, que manteve uma adolescente de 15 anos presa por 26 dias em uma cela masculina com cerca de 30 homens, na delegacia de polícia de Abaetetuba/PA, será punida com pena de disponibilidade. A decisão é do plenário do CNJ que, por maioria, seguiu o voto do conselheiro Arnaldo Hossepian, relator do processo. Com a decisão, a magistrada deve ficar afastada de suas funções por pelo menos dois anos.
Em 2010, ao analisar o processo, o CNJ havia decidido pela aposentadoria compulsória da magistrada. O entendimento, no entanto, acabou revisto pelo STF dois anos depois. De acordo com os ministros do Supremo, não havia provas de que Clarice Maria de Andrade tinha ciência da circunstância em que foi cumprida a ordem de prisão da adolescente. Na oportunidade, a Corte determinou que o CNJ analisasse o caso novamente.
Transferência
Segundo os autos, em 7 de novembro de 2007, a juíza recebeu ofício da autoridade policial de Abaetetuba solicitando "em caráter de urgência" a transferência da menina, uma vez que ela corria "risco de sofrer todo e qualquer tipo de violência por parte dos demais". De acordo com o apurado, apesar da gravidade do caso, somente no dia 20 daquele mês a juíza encaminhou ofício à Corregedoria de Justiça do Pará pedindo a transferência para um estabelecimento prisional adequado.
Em sua defesa, Clarice Maria de Andrade afirmou ter delegado ao diretor da secretaria do juízo a tarefa de comunicar a Corregedoria em 7 de novembro, o que foi desmentido pelo servidor e por outros funcionários e comprovado por perícia feita no computador da serventia.
O relator destacou, diante da gravidade da situação, que a magistrada faltou com suas obrigações ao delegar a função.
"Não é admissível que, diante da situação noticiada no ofício - presa do sexo feminino detida no mesmo cárcere ocupado por vários presos do sexo masculino, algo ignominioso - a magistrada dra. Clarice, no exercício da jurisdição, tenha simplesmente delegado para seu subordinado a expedição de comunicados pelas vias formais, curvando-se às justificativas que, segundo ela, foram apresentadas pelo servidor para postergar o cumprimento da determinação, o que se deu mais de dez dias após o recebimento do ofício. Evidente, portanto, a falta de compromisso da magistrada com suas obrigações funcionais."
Punição
Advertência, censura, remoção compulsória, disponibilidade e aposentadoria são as sanções administrativas previstas na Loman. O magistrado em disponibilidade com vencimentos proporcionais fica proibido de exercer suas funções, mas pode ser convocado a atuar, a qualquer momento, depois de pelo menos dois anos da punição, conforme critério da administração do tribunal.
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