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PF vê corrupção em ferrovias e desvio de ao menos R$ 630 milhões

26/02/2016 | 2482 pessoas já leram esta notícia. | 4 usuário(s) ON-line nesta página

"O Recebedor" é fruto de colaboração premiada da Camargo Correa na Lava-Jato. Empreiteira disse que pagou R$ 800 mil de propina para Juquinha, ex-presidente da estatal de ferrovias

As investigações da Polícia Federal apontam um prejuízo de R$ 631,5 milhões só nos trechos da Ferrovia Norte Sul em Goiás. Nesta manhã, agentes realizaram a Operação "O recebedor", que é um desdobramento da Lava-Jato. O objetivo é apurar corrupção e lavagem de dinheiro em obras neste trecho e também na Integração Leste-Oeste. A ação acontece depois de acordo de leniência e com a empreiteira Camargo Corrêa, das empresas alvo da Lava-Jato - que investiga corrupção na Petrobras - , além de colaboração premiada com seus executivos. A medida forneceu documentos e testemunhos para o caso.

De acordo com o Ministério Público, a Camargo Corrêa admitiu os crimes de cartel, corrupção, lavagem de dinheiro e de licitação. Também firmou compromisso para devolver R$ 800 milhões, sendo R$ 65 milhões destinados a ressarcir os danos acusados à estatal de ferrovias Valec. A empresa ainda entregou documentos e prestou depoimentos contra investigados, como o ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, o "Juquinha". A Camargo alega ter pago R$ 800 mil para Juquinha.

O Correio ligou hoje para um advogado arrolado na defesa do ex-presidente da Valec, mas ele afirmou que não atua mais no caso. O outro defensor não foi localizado.

Os agentes fazem diligências em seis estados - Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás - e no Distrito Federal. Os 180 policiais cumprem sete mandados de condução coercitiva, quando a pessoa é levada para prestar esclarecimentos e depois liberada, além de 44 ordens de busca e apreensão. Os agentes buscam suspeitos e provas sobre a suspeita de pagamento de propina para a construção das ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste. Entre os crimes estão a formação de cartel, lavagem de dinheiro e o superfaturamento de obras públicas.

Segundo a apuração, os desvios foram de R$ 630 milhões apenas nos trechos da Norte-Sul que cruzam Goiás. A ferrovia começou a ser construída no governo José Sarney (1985-1990). A PF afirma que as empreiteiras que faziam pagamentos regulares por meio de "contratos simulados" a um escritório de advocacia e mais duas empresas em Goiás. As firmas eram indicadas por Juquinha, segundo o MPF. O objetivo era fazer uma "fachada para maquiar" a origem ilícita do dinheiro vindo de "fraudes em licitações públicas". "Os pagamentos não se referiam a serviços efetivamente realizados, utilizando-se contratos de fachada para dar aparência de legalidade aos pagamentos feitos pelas empreiteiras em benefício de Juquinha", disse a Procuradoria, em nota.

Hoje, os policiais buscam provas de pagamento de propina, cartel e lavagem de dinheiro obtido com superfaturamento de obras. Entre os alvos, estão outras empreiteiras, como a Odebrecht, a OAS, a Queiroz Galvão e a Constram, do grupo UTC - todas investigadas na Lava-Jato. Em Brasília, os alvos são sete pessoas: Ulisses Assad, Rony José Silva Moura, Luiz Sérgio Nogueira, Aloysio Braga Cardoso da Silva, Leandro Barata Diniz, Alfredo Moreira Filho e Laize de Freitas.

Trem Pagador
O nome da operação é relacionado à Operação "Trem Pagador", que investigou superfaturamento na Norte-Sul e resultou em investigação contra Juquinha. Um de seus advogados defendeu-o com a seguinte frase: "Se o trem era pagador, Juquinha não foi o recebedor".

Na ação de hoje, um outro objetivo é fortalecer investigações anteriores do Ministério Público Federal em Goiás sobre sobrepreço, superfaturamento, crimes de licitações, como cartel, corrupção passiva, desvio de dinheiro público e lavagem, atribuídos à Valec. "Havendo ainda indícios da prática dos mesmos crimes com relação à Ferrovia de Integração Leste-Oeste, durante o período em que foi presidida por José Francisco das Neves, o "Juquinha"", informou a Procuradoria da República em Goiás na manhã de hoje.

O jornal ainda não localizou ou não obteve esclarecimentos das demais empresas e pessoas investigadas e relacionadas na apuração da Polícia Federal e do Ministério Público.

Os alvos de "O recebedor"

Paraná
CR Almeida S/A Engenharia de Obras
IVAI - Engenharia de Obras S/A

Maranhão
Agrossera - Agropecuária e Industrial Serra Grande LTDA

Rio de Janeiro
Construtora Norberto Odebrecht S/A

Minas Gerais
Servix Engenharia S/A - (Lagoa Santa/MG)
SPA Engenharia Ind. e Com. LTDA
Egesa Eng. S/A
Construtora Barbosa Mello S/A
Consórcio aterpa M. Martins - EBATE
TORC - Terraplanagem Obras Rodoviárias e Const. LTDA
Hugo de Magalhães
João Bosco Santos Dutra - (ARCOS/MG)
João Bosco Santos Dutra
Bruno Von Bentzeen Rodrigues
Eduardo Martins
Daniel Nóbrega Lima De Oliveira - (Nova Lima/MG)

São Paulo
Construtora Queiroz Galvão S/A
Mendes Júnior Trading e Eng. S/A
Galvão Engenharia
Constran S/A - Construções e Comércio
Construtora OAS S/A
Serveng Civilsan S/A Empresas Associadas de Engenharia
Cavan Pré-Moldado S/A
TIISA - Infraestrutura e Investimentos S/A
BRAEMP Brasil Empreendimentos e Participações LTDA
Pedro Augusto Carneiro Leão Neto

Distrito Federal
Ulisses Assad
Rony Jose Silva Moura
Luiz Sérgio Nogueira
Aloysio Braga Cardoso da Silva
Leandro Barata Diniz
Alfredo Moreira Filho
Laize de Freitas

Goiás
ELCCOM Engenharia Eireli
Evolução Tecnologia e Planejamento LTDA
Heli Dourado Advogados Associados S.S
Consórcio Ferrosul - (SANTA HELENA/GO)
Heli Lopes Dourado
José Francisco das Neves
Marivone Ferreira das Neves
Jader Ferreira das Neves
Rodrigo Ferreira Lopes Silva
Rafael Mundim Rezende
Josias Gonzaga Cardoso
Juarez José Lopes Macedo.

Fonte Correio Braziliense