A deteriorada relação entre Dilma Rousseff e Michel Temer atingiu um nível mais alto ontem. Petistas e integrantes do governo defendem que não haja a formação de uma equipe de transição entre os dois governos, com o compartilhamento espontâneo de informações estratégicas do Executivo Federal, pelo fato do governo Temer ser "ilegítimo, fruto de golpe e sem o amparo democrático das urnas".
Alguns mais ponderados refutam a tese de que os dados serão "escondidos, apagados ou destruídos". Mas acrescentam que, se aliados de Temer quiserem acessos a projetos, planilhas e orçamentos, eles que procurem nos ministérios. Não haverá a mínima boa vontade da atual administração de explicar como está o país e o que poderá ocorrer nos próximos meses. Outros nem sequer pretendem admitir a derrota antes da votação no Senado.
"É um direito deles, evidentemente. Mas é claro que é péssimo. Não sabemos a situação do país que eles vão nos passar, quais os esqueletos, as bombas e possíveis sabotagens", reconheceu um interlocutor do vice-presidente Michel Temer.
É mais um capítulo do transe político que paralisa o país com dois governos em funcionamento diante de uma população que convive com uma inflação de dois dígitos, desemprego na casa dos 10 milhões de pessoas e recessão que beira os 5% de encolhimento do PIB. Dona de uma caneta sem tinta, a presidente Dilma Rousseff nomeia e demite ministros, luta para sobreviver na batalha do impeachment e acelera projetos para tentar deixar alguma marca administrativa para tentar apagar o trauma do impeachment.
Herdeiro do eixo do poder de fato, mas ainda não de direito, o vice-presidente confirma ministeriáveis, abandona convites feitos a amigos para se tornarem ministros e se envolve até em julgamentos no Supremo Tribunal Federal. O debate em torno da mudança nos juros - de compostos para simples - da dívida dos estados é emblemática. Se o cálculo dos juros for alterado, a União arcará com um rombo de R$ 402 bilhões. Mais preocupado com a defesa de Dilma Rousseff no Senado, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, deixou o caso da dívida aos cuidados de outros defensores.
Preocupado com o possível rombo de meio trilhão de reais que poderia ser obrigado a assumir, Temer mandou interlocutores conversar informalmente com ministros do STF. Conseguiu, assim, a primeira vitória de um governo que ainda não existe. Os ministros decidiram adiar o julgamento por 60 dias, prazo no qual, em tese, Temer já será presidente da República.
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