O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Pólo de Mello Lopes, defende o setor e diz que não há monopólio nem obrigação das empresas em baixar os preços do aço para beneficiar a indústria. A indústria naval brasileira, que tem crescido no país, corre o risco de sofrer uma desaceleração por causa do preço do aço usado na construção das embarcações, que chega a custar aqui 30% a mais do que é vendido no exterior.
“Tem que ser apagado da memória a época em que as empresas estatais que faziam parte da Siderbrás (Usiminas, Cosipa, CSN) serviram de instrumento de subsídio da indústria. Isso acabou com que as usinas tivessem transferências de renda na ordem de US$ 17 bilhões. Isso levou as empresas a terem uma situação financeira muito complicada, que culminou no processo de privatização. Então a siderurgia não pode ser utilizada como no passado, de instrumento”, disse Lopes.
O executivo do IBS defende a Usiminas das acusações de fornecer aço no mercado interno a preços superiores ao que ela vende no exterior. “O que não faz o menor sentido é o presidente da Transpetro [Sérgio Machado] chegar e dizer: eu quero aço aqui fornecido na mesma condição externa, porque isso seria uma forma do setor estar subsidiando a indústria naval. O que o Sérgio Machado tem colocado não é nenhuma grande novidade. O que é novidade, isso sim, é querer que as usinas siderúrgicas brasileiras coloquem no mercado interno uma condição especial, coisa que é difícil de ser atendida.”
Segundo ele, a culpa de não se fechar um preço melhor com a Usiminas é da própria Transpetro. “Por várias vezes, a Transpetro chegou na imprensa para dizer que o aço estava inviabilizando o programa [de modernização da frota]. O que se verifica é que este programa tem sofrido freqüentes atrasos. Era para ter sido iniciado há três anos, não foi; dois anos, não foi; um ano, não foi. Tem sido adiado. A Transpetro senta com as usinas, negocia qualidade, condição de fornecimento, preço, acerta tudo. Aí, o programa não vai adiante, sofre um novo atraso. Evidente que você senta para discutir, cinco, seis meses na frente, tem que rever as condições todas.”
Marco Pólo questiona por que só para a indústria naval a siderurgia tem sido problema, se ela tem sido solução para o parque industrial inteiro. “No mínimo, tem que se criar aí um ponto de interrogação e a suspeição de que existe um outro interesse, que é jogar sobre o setor siderúrgico uma responsabilidade de um programa que vem sofrendo atrasos sistemáticos.”
Quanto às acusações de que o setor de chapa para navegação está monopolizado, já que uma única empresa fabrica 100% do produto, o executivo diz que trata-se de má fé ou total desconhecimento. “Um parque siderúrgico, com várias empresas produzindo e que hoje está aberto à importação, com uma alíquota zero, eu diria que, no mínimo é má fé ou total desconhecimento do que seja o setor no país. Não existe monopólio, não existe cartel. Não aceitamos este tipo de colocação de quem quer que seja.”
Uma das saídas vislumbradas pelo vice-presidente do IBS passa pela redução da carga tributária no segmento siderúrgico. “Eu acho que tudo o que puder ser feito pelo governo, eventualmente, se quiser dar um tratamento especial ao aço, desonerando a carga, que não é baixa, evidente que pode trazer algum nível de alívio e de algum avanço neste processo negocial. Uma das grandes prioridades que a siderurgia vem trabalhando é, exatamente, buscar uma reforma tributária que desonere [a produção]. Não há como se obrigar [a baixar os preços]. Isso aqui é uma economia de mercado, ou não é."
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